Joaquim Augusto S. S. Azevedo Souza*
Mais uma vez a agropecuária corresponde aos anseios da Nação e oferece extraordinária safra de grãos, quebrando novos recordes e reafirmando a corajosa disposição para produzir e o espírito empreendedor do agricultor brasileiro.
Espera-se 232 milhões de toneladas de grãos na atual safra agrícola o que representaria um aumento de 24,3% sobre a produção da última safra. E não é só...Hoje, o Brasil está entre os cinco maiores exportadores agrícolas do mundo, sendo o maior fornecedor de açúcar, café e suco de laranja, além da expressiva produção de soja, milho, carnes, frutas e até tabaco. Além do que, é preciso registrar que também na área energética a agricultura contribui fortemente, através da energia renovável composta por biomassa de cana-de-açucar, com 42% além de 28% de energia hidráulica, 20% com lenha e 10% com outras fontes. Desse conjunto temos quase a metade do total do fornecimento de energia.
Isso tudo é fruto do magnífico crescimento agropecuário alcançado nas últimas décadas, cujos reflexos positivos estão aí na economia e no amplo abastecimento da população.
Entretanto, nem tudo são rosas...Continuamos carentes de uma infra-estrutura condizente com as necessidades impostas pelas elevadas produções do segmento. Somos insistentemente prejudicados pela burocracia governamental e seus procedimentos, além de pesadamente onerados pelo sistema tributário.
Além disso, a cada novo ano a nossa agropecuária é defrontada com sérios e crescentes desafios, ora impostos pela incompetência da área política, ora por questões estruturais, mercadológicas e até climáticas. Inobstante, o maior de todos eles está na necessidade de superação constante dos índices de produtividade alcançados ao longo de décadas e no emprego de inovações tecnológicas, direcionadas especialmente à multifuncionalidade da agropecuária.
E é diante deste cenário que o governo federal lançou o novo plano de safra 2017/2018 contendo volume total de crédito rural de R$ 190,25 bilhões. Para o custeio e comercialização os recursos com juros fixados pelo governo somam R$ 116,25 bilhões e para investimentos outros R$ 38,15 bilhões. Tais valores deverão estar disponíveis na rede bancária a partir de julho próximo e poderão ser utilizados por médios e grandes produtores agrícolas às taxas de 7,5% e 8,5% ao ano. Aos médios produtores serão destinados R$ 18 bilhões para custeio e R$ 3,7 bilhões para investimentos, cabendo as respectivas diferenças dos valores retro para financiamentos aos grandes produtores.
Contrariando o que disse o senhor presidente da Republica quando afirmou, com indisfarçável otimismo, que o anuncio do atual plano de safra revela o compromisso inequívoco do governo com a agropecuária, simplesmente não podemos concordar com as altas taxas de juros embutidas para a agricultura e pecuária. Além do que o seguro agrícola foi minimamente contemplado.
No nosso modesto entendimento enquanto anuncia-se uma queda nos juros agrícolas de 9,5% e 8,5% para 8,5% e 7,5%, respectivamente, o que há realmente é um sensível aumento da carga financeira para agricultores e pecuaristas.
Senão, vejamos: antes tínhamos inflação de 6 a 7% ao ano e a taxa SELIC era de cerca de 14%. Hoje, a inflação esbarra em perto de 4% ao ano e a taxa SELIC está em 10,25% com tendência de baixa, fica, portanto, muito difícil a compreensão de que as taxas anunciadas são menores e boas.
Lembramos, outrossim, que os agricultores norte-americanos, havidos como os maiores produtores e exportadores mundiais, pagam taxa de 0% em seus financiamentos. Como competir?
Portanto, não me parece muito grande a preocupação do governo com o setor rural!
Registro ainda, e apenas para lembrar, que a cadeia do agronegócio é, atualmente, responsável por 21% do PIB e metade das exportações brasileiras, exportando para mais de 150 países.
Oxalá, possamos continuar a produzir alimentos suficientes e contribuir, como temos feito, para a nossa economia.